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"Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim." – Jo 15.18

5 de outubro de 2009

Tudo posso! Mesmo?


Posso todas as coisas naquele que me fortalece. Fp 4:13

A Bíblia traz algumas promessas notáveis para o crente. O verso citado acima representa uma experiência de Paulo que expressa na prática a realidade dessa promessa. Mas quão levianamente essa afirmação tem sido citada e repetida! Fora de seu contexto, ela chega a ser perigosa. Será que o crente pode realmente todas as coisas?

Com base nessa passagem, um crente é uma espécie de super-homem que pode pular do vigésimo andar de um prédio, realizar qualquer tipo de milagre, determinar a prosperidade própria ou de outrem ou ainda praticar qualquer ato, como mentir? Seria o crente dotado de poder para mudar realidades, circunstâncias e situações adversas, fazendo tudo em volta ficar melhor? Creio que entender assim essa passagem é um grande equívoco.


Em seu contexto, a frase paulina encerra um parágrafo maior, que esclarece o exato sentido em que o apóstolo usou essa expressão. Ele havia recebido uma ajuda financeira da igreja de Filipos, a qual aparentemente chegou numa hora crítica, pelo que disse "ora, muito me regozijo no Senhor por terdes finalmente renovado o vosso cuidado para comigo; do qual na verdade andáveis lembrados, mas vos faltava oportunidade" (4:10). Aos filipenses isto poderia parecer uma cobrança por uma eventual demora, então ele se apressa a esclarecer que "não digo isto por causa de necessidade, porque já aprendi a contentar-me com as circunstâncias em que me encontre" (Fp 4:11).


Esta atitude de contentamento diante de circunstâncias adversas fornece o sentido em que Paulo é fortalecido pelo Senhor e pelo qual pode todas as coisas. O "todas as coisas", no caso, inclui "passar falta", "ter abundância", "ter fartura", "passar fome" e "padecer necessidade", (Fp 4:12). O fortalecimento do Senhor não é para determinar prosperidade e mudar circunstâncias, mas suportar tudo isso numa atitude de contentamento, uma vez que o Senhor lhe havia dito "a minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza" (2Co 12:9).


Porém, não devemos confundir a atitude de Paulo como uma resignação passiva. Seu contentamento não resulta de uma visão fatalista da realidade, mas da descoberta de que "o viver é Cristo, e o morrer é lucro" (Fp 1:21). Na verdade, ele acreditava que "é grande fonte de lucro a piedade com o contentamento" (1Tm 6:6). Ele compreendia que só Jesus é essencial e viver para Ele torna sem significância a diferença entre fartura e privação.


Nosso desafio, numa era em que o materialismo determina a espiritualidade de muitos, é redescobrir a riqueza da pessoa de Cristo que habita em nós e assim fortalecidos vivamos uma vida de gratidão e contentamento, nunca reclamando do que não temos, pois o principal, Jesus Cristo, não pode ser tirado de nós.


Soli Deo Gloria

 


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